A história de Sísifo
01/12/2016

A história de Sísifo

Um dos personagens mais interessantes da mitologia grega é Sísifo, o rei de Corinto. Era tido como o mais esperto entre os homens. Apesar de toda a sua astúcia, ou talvez justamente por causa dela, sempre se via diante das situações mais complicadas. Cada esperteza criava novas dificuldades, que por sua vez pediam novos estratagemas, numa eterna sucessão de saídas provisórias.

Certa vez, Sísifo descobriu por acaso que Zeus havia raptado Egina, filha de Ásopo, o Deus dos rios. Como faltava água em suas terras, Sísifo teve a idéia de revelar a Ásopo o paradeiro de sua filha, desde que este lhe desse em troca uma nascente.
O pai desesperado aceitou de bom grado a proposta. Deu a Sísifo a nascente e soube então que sua filha fora raptada por Zeus.
Sísifo teve a água, mas arrumou outro problema: Zeus ficou furioso com a delação e mandou a Morte busca-lo.
Confiando na própria astúcia, Sísifo recebeu a Morte e começou a conversar. Elogiou sua beleza e pediu-lhe para deixa-lo enfeitar seu pescoço com um colar. O Colar na verdade não passava de uma coleira, com a qual Sísifo manteve a Morte aprisionada e conseguiu driblar o seu destino.
Durante um tempo, não morreu mais ninguém. Sísifo soube enganar a Morte, mas arrumou novas encrencas. Desta vez com Plutão, o Deus das Almas e do inconsciente, e com Marte, o Deus da guerra, que precisava dos préstimos da Morte para consumar as batalhas.
Tão logo teve conhecimento do acontecido, Plutão libertou a Morte e ordenou-lhe que trouxesse Sísifo imediatamente para os infernos. Quando Sísifo se despediu da mulher, teve o cuidado de pedir secretamente que ela não enterrasse o seu corpo.
Já nos Infernos, Sísifo reclamou a Plutão da falta de respeito de sua esposa em não enterrar seu corpo. Então suplicou por um dia de prazo para se vingar da mulher ingrata e cumprir os rituais fúnebres. Plutão concedeu-lhe o pedido. Sísifo retomou então seu corpo e fugiu com a esposa. Havia enganado a Morte pela segunda vez.
Viveu muitos anos escondido, até que finalmente morreu. Quando Plutão o viu, reservou-lhe um castigo especial. Sísifo foi condenado a empurrar uma enorme pedra até o alto de uma montanha. Antes de chegar ao topo, porém, a pedra rolava para baixo, obrigando Sísifo a retomar sua tarefa, até o fim dos tempos.

Sísifos Atuais

O mundo moderno é formado por muitos Sísifos: pessoas que não completam suas propostas porque procuram soluções paliativas que acabam gerando mais problemas.
Não terminam seus cursos, faltam seus compromissos, não mantêm uma relação amorosa saudável.
Vivem mudando de emprego, profissão e parceiros afetivos. Na ilusão de estarem realizando uma verdadeira vocação, eles na verdade não conseguem colocar a pedra no topo da montanha.
São pessoas mais preocupadas com o esforço do que com o êxito. Procuram se mostrar preocupadas, agitadas, fazendo muitas coisas, como aquele jogador de futebol que corre sem objetivo pelo campo, sem pensar que, se tivesse uma noção clara do que fazer, poderia esforçar-se menos e colher melhores resultados.
Não terminam o que começam.
Estão sempre recomeçando algo.
Não planejam.
Quando planejam, não cumprem.
Não tem noção de ritmo.
Procuram sempre soluções geniais.
Vivem no “quase”.
Procuram não se comprometer.
Esquecem detalhes fundamentais.
Não mantêm os compromissos.

A história de Sísifo simboliza, melhor do que qualquer outra dificuldade do ser humano em atingir seus objetivos. Não só pela forma com que Sísifo leva sua vida, mas também pelo castigo a que é submetido.

Às vezes, quando acontece a uma pessoa algo que a desagrada, ela pensa que Deus a está prejudicando. Ela não percebe que a situação, mesmo adversa, é uma oportunidade para se desenvolver.
O Deus que existe dentro de cada um de nós coloca-nos em situações que nos permitem tomar consciência de quais são os nossos pontos fracos. Isso faz com que aprendamos a colocar a pedra no topo da montanha em vez de improvisarmos.
Providenciamos a nossa pedra, seja no amor, seja no trabalho, seja em nossa vida, para que ela quase chegue ao topo, caia e então recomecemos tudo de novo. Até aprendermos a colocá-la no cume da montanha, que é o seu lugar.

Giancarlo Bitencourt Pacheco
Diretor Grupo Orus Brasil
www.orusbrasil.com.br